quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Já foi

Essa dor que me acompanha,
Que meu corpo  todo estranha,
Nem a alma compreende.

Vem pra contorcer entranhas,
Numa penosa campanha,
Num sentir inconseqüente.

É um caminhar na rua
Sem minhas mãos
Perto das tuas.

É uma lua cheia
Sem o som dum sorriso
Que me clareia.

Mas a lembrança que acompanha,
Que meu corpo ainda estranha,
Disso o coração entende.

É um partir levando entranhas,
Na dolorosa façanha
Duma paixão sem precedentes.

domingo, 8 de setembro de 2013

Camisa da lua de Vênus

A gola de sua camisa me enforca,
Por ser sua tem a força
que entorta
cada gesto meu.

A gola de sua camisa me encanta
Abre no teu peito
e  espanta
Os  não que carrego em mim.

Essa gola morta,  desmiolada como eu,
Não importa  o quanto
Ou quando volta,
Pelo caminho que ora escolheu.

Sempre será a gola que corta
A voz de minha boca que te quer.

Sempre será a gola, navalha,
Rasgando a porta do amor
Que ora, por horas,
Nos teceu.

sábado, 17 de agosto de 2013

Endoscopia

Sabe a agulha do palheiro,
aquela bem perdida,
que só aparece a quem é palha?

Tá cá dentro do meu peito
perdida como cego
em tiroteio.

Tá cá dentro do tórax
fazendo como alfinete
que engoli
por acidente.

Agitando no meu abdome
Sobe, desce,
sobe,
desce.

Me costurando por dentro, doída.
E dói,
dolorida,
como dói.



Seguro não morreu de velho

Segurar a palavra
na garganta
dolorida
pelo não.

Segurar o choro
preso no peito
pulsante
do perdão.

Segurar o destino
entre os dedos
esmagados
 pela mão.

Segurar não é seguro,
a medida certa
do aperto
é a saudade.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Escute

Ele diz saber de minhas intenções.
Perdoe-me o tom da palavra,
mas como pode tão grande cegueira
guiar tamanho coração?

Sento na cadeira pela segunda vez
como não o fiz por anos,
só em resposta à provocação.
Minhas vísceras viram ao avesso e
quase esqueço do porque me escondo
por debaixo dos panos.

Querido romance,
minha alma não exponho fácil assim.
Meu sexo é do escuro, a luz revela demais.
Diante da branquitude de um quarto corro
para longe, até que meus pulmões se afoguem em si,
e me falte o ar, memória e visão.

Mas é nessa tua cama iluminada
que deixo minha alma,
cada vez que levanto.
Devolvo ao chão as roupas nas quais me escondo,
e faço isso fácil, num nu automático
fruto do teu encanto.

Portanto não me ofenda,
não sou oferenda afogada na areia do Rio que é mar.
Sou meus olhos no escuro,
fazendo luz reluzir mais que a rua
iluminada em lua,
quando estas em mim.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

No começo

Os detalhes desconhecidos  de sua alma
são labirintos curiosos de se percorrer,
o estranho seria se esses caminhos não assustassem
a quem mapas cartográficos
mal sabe ler.

Mas a doçura de seus olhos
faz meus medos se afogarem em mel,
e cada melancólica lembrança 
evaporar, como  se possível fosse
para o açúcar,  sublimar.

Daí aquele coração que ora não batia
faz esforço pra voltar ritmado
pro peito fechado,  agora  que a parede
daquele quarto meio claro,
parece seu lugar.

A teimosia das pessoas que sou
segue colocando pedras  ante meus passos,
e a cada tropeço me arrependo
ao  tempo em que reaprendo
que amar é coisa de gente.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

À medida

Difícil recomeçar quando o percurso foi apagado.
Mesmo com o perdão da insónia, café, álcool ou
ópio, pra dar um ar blassé à estória,
A falha ainda é sua, o resto é coadjuvante.
                                                                                                                                            
Eu sou aquele vazio que insiste em ser preenchido por sopro,
Brisa desolada e cabisbaixa,
Daquela que não move nem os finos galhos do menor arbusto.
E mesmo no copo, me fazem de tempestade.

Parece-me injusto
Tratar assim de assuntos tão delicados.
Mas palavra pode ser navalha, cortar com precisão,
E quando não... Paciência, pois o "quando sim" compensa.

É delicado, de fato, e eu tendo a cometer injustiças...
Disfarço o conteúdo com vogais sonoras em “ais” doloridos
Ou comprometo-me a remoer, rebater, corroer, na exposição do rangido  
De consoantes.

Entre a falha, o vazio e a navalha
O tempo é o fio que conduz.
Tempo cortante, que esvazia e faz errar de novo.
E eu, mesmo péssimo julgador, sirvo de isolante:

O susto é memória do que não fazer,
Ou do que vai acontecer com seu estomago se resolver pular.
Mas vocês insistem em me ter pra automutilação.
Tenho quase certeza que o problema é como ensinaram vocês a me usar.

Pois
Se decidir
subir na montanha –
russa, melhor lembrar de não
comer aquela buchada, do que ser lembrado
do seu almoço pelo teu bucho
revirando nas entranhas
pela súbita
descida,
não
é?