sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O avesso da idade


Infância, desde quando vc se foi?
Rolar naquelas sinceras vontades
Sentir era tão fácil
O medo era do escuro

Minha mãe me deu um livro
“O livro dos monstros”
O monstro embaixo da cama, dentro do armário
O galho batendo na janela, balançando
A cortina fantasma
(...)

Todos aqueles apertos noturnos
Presenças indesejadas
Se transformaram
Nessa falta

Minha mãe não me deu um livro
Pra isso
Só Neruda, Drummond e Andrade
Pra isso só coragem

Daquelas que você não aprende

Muitos adultos viram bohemios
Outros mães ou pais, professores, doutores, ricões
Ainda bohemios...

A bohemia é aquele abajú
Que pedia pra mamãe deixar aceso
-Dirliga não!

Os monstros da escuridão
Viram as sombras iluminadas
Dos ainda monstros.

Adultos falam tanto
Em crescer
Mas adoram viver de ilusão

-Dirliga não!
-É "desliga", filha.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Quase amei tantas vezes


Epitáfio dos covardes
Viver é melhor que sonhar, Belchior
Mas o amor nem sempre foi coisa boa

Daí invento estórias,
Tenho cabeça de cineasta prum romance
Casos de amores secretos
Afogados pela imaginação
Ante o primeiro suspiro
Já tem morte decretada
Pelo mundo montado lá dentro

(Nas entranhas pulsantes)

É dialogo de improváveis desejos:
Grama que me deu coceira
É grama que me faz sorrir
Tem flor quase sem cheiro
Que insisto em enfiar o nariz
Cimento que não vira concreto
Quanta palhaçada!

O mar é eu
Engolindo o mais apaixonado marujo
Enquanto que por entre suas colunas d´água
Brincam peixes e corais
Algas, sereias,
Até bactérias
E é regra ecológica:
Sem seus peixes, corais, algas, sereias e bactérias
É só molhado, vazio celestial

É devaneio demais, amigo
No final dos versos não sobra máscara
O que deveria ser um poema de amor  
São as prosopopeias
Pra fugir das tempestades
É guarda-chuva pra não encharcar o coração

Ah, eu amo tanto quando amo
Que o falling in love
Tomber en amour
Me derruba mesmo!
Sou poeta mentirosa, amante intensa
Sacana, escorpiana

Chega...
Vem chegando,
Que já se foi palavra demais: quero é vida.
Muitas vidas!
Com sorte,
Uma vida inteira cheia de pequenas mortes
Para cada amor.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Rotina

Fria, cálida noite
Parte de mim que brilha todo dia
Entre luzes no chão e luzes do céu
O silencio e a penumbra de um quarto
Quente

Universo colorido na cabeça, entre verde e vermelho
Sangue, navalha, machado
Correndo pelas veias vegetais, sonhos de pedra
Petrificados pelo medo

Entre minh´alma e a d´outros, um vão
As palavras podem preencher meu peito
Mas meus braços seguem vazios

Qual o tamanho do buraco
Não sei, não hei de saber
Portanto sigo
Fria e calada nessa
E toda noite.