sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

O avesso da idade


Infância, desde quando vc se foi?
Rolar naquelas sinceras vontades
Sentir era tão fácil
O medo era do escuro

Minha mãe me deu um livro
“O livro dos monstros”
O monstro embaixo da cama, dentro do armário
O galho batendo na janela, balançando
A cortina fantasma
(...)

Todos aqueles apertos noturnos
Presenças indesejadas
Se transformaram
Nessa falta

Minha mãe não me deu um livro
Pra isso
Só Neruda, Drummond e Andrade
Pra isso só coragem

Daquelas que você não aprende

Muitos adultos viram bohemios
Outros mães ou pais, professores, doutores, ricões
Ainda bohemios...

A bohemia é aquele abajú
Que pedia pra mamãe deixar aceso
-Dirliga não!

Os monstros da escuridão
Viram as sombras iluminadas
Dos ainda monstros.

Adultos falam tanto
Em crescer
Mas adoram viver de ilusão

-Dirliga não!
-É "desliga", filha.